Kundi Paihama ordenou que pelo menos 15 mil ex-militantes da UNITA ingressassem no MPLA na província em que ele é o soba-maior, Huambo. A fazer fé nos números oficiais que, com regularidade, são divulgados pelos donos do país, o Galo Negro deve hoje ter pouco mais do que uma dúzia de militantes.
Por Orlando Castro
O s mais recentes dados foram agora divulgados pelo primeiro secretário local do MPLA, Kundi Paihama, num acto de massas realizado no bairro Kavongue, arredores da cidade do Huambo, no qual foram apresentados 675 novos militantes provenientes do maior partido da oposição.
Embora a Angop fale em 675, não creio que Kundi Paihama se desse ao trabalho de apresentar essa sub-espécie de angolanos a que sempre chamou, pejorativamente, de kwachas, se não fossem no mínimo os 6.750. Ou até mais. É certo que o actual governador do Huambo tem alguma dificuldade aritmética, mas sempre poderia mandar descalçar os novos militantes do MPLA para, contando pelos dedos, dar um número mais exacto.
Kundi Paihama disse, relata a agência do regime, que o ingresso destes militantes, de forma voluntária (obviamente), resulta da acção de mobilização do MPLA, que constitui a principal alavanca para o crescimento do partido que governa o país. Já agora, como mais-valia informativa, registe-se que o governa o país desde 11 de Novembro de 1975.
Kundi Paihama afirmou também, usando – por delegação do “querido líder” – o seu poder divino, que o partido que dirige não fecha as portas a qualquer cidadão que quer filiar-se nele, independentemente de já ter militado num outro. Mesmo sendo cidadão de segunda, acrescente-se-
Disse Kundi Paihama que a paz, alcançada a 4 de Abril de 2002, representa um momento propício para cada cidadão exercer a sua liberdade de escolha de organização partidária em conformidade com a lei, com vista a consolidação do princípio democrático consagrado na Constituição.
E tudo, diga-se, devido à impoluta e também divina clarividência do presidente da República, José Eduardo dos Santos, nunca nominalmente eleito e no poder desde 1979.
Kundi Paihama referiu que o respeito pela vontade expressa dos cidadãos constitui o factor fundamental para a construção de um país democrático de direitos, através do respeito mútuo e a diferença. Por outras palavras, todos devemos perceber que o MPLA é Angola e Angola é o MPLA.
Por isso, apelou aos líderes das outras organizações partidárias a deixarem que os seus militantes exerçam livremente as suas escolhas. Com esta é que, por exemplo, não contava Isaías Samakuva. Então a UNITA não deixa que os seus militantes façam livremente as suas escolhas? Até Kundi Paihama consegue surpreender.
Não nos esqueçamos, por exemplo, que quando em Agosto de 2012 discursou no Estádio Nacional de Ombaka (Benguela) o ministro dos Antigos Combatentes e Veteranos da Pátria, general Kundi Paihama, disse que os que lutarem contra o MPLA e contra José Eduardo dos Santos “vão ser varridos”.
E se Kundi Paihama o disse é porque foi, é e será mesmo assim. E não adiante citar o bispo emérito de Cabinda, Paulino Madeca, que disse que “quando um político entra em conflito com o seu próprio povo, perde a sua credibilidade, torna-se um eterno ditador”.
Por alguma razão Kundi Paihama, tal como os restantes sipaios do regime, continua a pedir aos militantes do seu partido para que controlem “milimetricamente” todas as acções da oposição, para não serem “surpreendidos”.